Documentários

      EU VENCI A BALANÇA
Ex-obesos ensinam como ser magro e dão belas lições de vida




 "Meu sonho de ganhar peso virou pesadelo"
                                Iara Keiko Murayama, 46 anos, perdeu 14 quilos. Ela é terapeuta holística em Kani, Gifu

 
"Fui uma criança e uma adolescente magérrima. Colecionava apelidos como biscuit e pau-de-virar-tripa. Quando saía com as amigas, sempre sobrava. Meu sonho era engordar. Comecei a tomar uma vitamina, mesmo contra os conselhos do médico, que dizia que o composto se acumularia no organismo e que eu veria o resultado desastroso na idade adulta, depois que tivesse filhos. Na primeira gravidez, tudo bem. Na segunda, tive que ficar 6 meses de repouso aos cuidados de uma empregada maravilhosa que colocava comida na minha boca de hora em hora: engordei 30 quilos. O que era sonho virou pesadelo. O pior é que como sempre fui magra, demorei muito para ver a minha gordura. As pessoas diziam 'você está engordando' e eu achava ótimo. Até o dia em que vi uma foto minha de biquíni e fiquei horrorizada. Aí começou a guerra.Só conseguia emagrecer com muito sacrifício. Aos 29 anos, mudei radicalmente, virei vegetariana. No segundo casamento, descobri que tinha hipotireoidismo; para quem sofre dessa doença até água engorda e é preciso tomar remédio para o resto da vida. Cheguei aos 89 quilos. Vim para o Japão gorda, com estresse e hipotireoidismo para fugir de uma situação difícil no Brasil. Fiz faculdade de musicoterapia, cursos de massagem e estética, trabalhei em spas e, mesmo sabedora de todos os mecanismos do corpo, na hora da depressão nada disso me valia. Foi aí que percebi que o regime começa na cabeça.Comecei a fazer meditação e a ter uma visão holística da obesidade: a doença é uma dádiva para mudar sua vida. Passei a mudar o meu corpo no mental, a me ver magra,a agir e pensar como uma pessoa magra. Tudo isso associado ao uso de um produto dietético e exercícios - alongamento e abdominais que faço em casa. Preguei uma mulher magérrima fazendo uma seqüência de exercícios na porta da geladeira. Toda vez que penso em comer um bolo, olho para ela e desisto. Na minha mesa só tem lugar para fruta s, leite de soja e frango. Não como carne vermelha, mas não sou radical. Se tiver de comer, não faço escândalo. Agora estou com 75 quilos. É o suficiente. Fiz o exame antropométrico e foi constatado que minha massa óssea é muito densa - perdi 14 quilos, mas parece que foram 20. As pessoas pensam que emagrecer é só conferir os dígitos da balança, não é bem assim. Na verdade, é preciso perder em medidas. Hoje, sinto que meu corpo é um relógio, funciona direitinho.Magra, ando melhor, corro melhor, me sinto uma gazela. Volta e meia penso: Gente, como estou leve! Que coisa boa!"
                                                                        
                                                   
"Quando consegui cruzar as pernas foi uma vitória"
                               Márcia Cecília Silva Yamamoto tem 49 anos, mora em Hamamatsu e perdeu 85 quilos


"Nasci muito fraquinha, então meus pais me enchiam de comida. Se eu não queria fazer alguma coisa, me davam doces para me convencer. Na adolescência, mantinha os 65/ 70 quilos à base de muito remédio. Quando parava de fazer efeito, mudava de marca. Além de viciada em comida, fiquei viciada em drogas para emagrecer. As drogas me davam taquicardia, perda de memória, insônia, mas eu não ligava.O medo de virar uma bola era muito maior. A verdade é que eu não era tão gorda como me via. Hoje, sei que poderia ter corrigido com ginástica o que eu não gostava no meu corpo. No Japão, a coisa desandou de vez. Não tinha mais a facilidade de ter os moderadores de apetite à mão e, de quebra, passei a tomar antidepressivos também. Tive crises horríveis, alucinações, pressão alta, achava que ia morrer. Cheguei a ir de ambulância para o hospital só para os médicos constatarem que eu não tinha nada. Para fugir das drogas, tente i de tudo, de produtos dietéticos a acupuntura. Cheguei aos 155 quilos. Fiquei 3 anos sem sair de casa. Não ia ao médico nem ao dentista porque sabia que as crianças iam ficar olhando e as pessoas apontando para mim. Nem tentei arranjar um emprego porque sabia que não me dariam a vaga. Trabalhava em casa fazendo comida para fora. Era impossível achar roupa para o meu tamanho aqui, meus parentes tinham que mandar dos Estados Unidos. O mundo não foi feito para os gordos. Tinha dias que eu achava que não seria mais capaz de levantar da cama. Eu sabia que se continuasse assim ia morrer. Foi aí que resolvi fazer a cirurgia de redução do estômago. É uma cirurgia de risco (para o obeso tudo é um risco), muita gente morre na mesa de operação, mas eu estava entre a cruz e a espada. Minha sobrinha pesquisou sobre a cirurgia para mim nos EUA e eu viajei para lá decidida a mudar de vida. Fiquei assombrada com a quantidade de gordos no país e com as facilidades que existem para eles. Vi gente andando de cadeira de rodas com controle remoto e aparelho para respirar. Quando chegavam no restaurante tiravam o aparelho e comiam como se fosse seu último dia de vida. Eu não queria chegar àquele ponto. Fiquei 4 dias no hospital. Os médicos reduziram meu estômago ao tamanho de um punho, menor do que o estômago de um bebê. Nas primeiras semanas tomava uma porção de caldo do tamanho de um dedal às refeições. Fiquei três meses me recuperando longe do marido e dos filhos que estavam no Japão. Foi bom porque assim não tinha outras preocupações além de cuidar de mim e, ao mesmo tempo, queria me recuperar logo para voltar para casa. Como me livrei dos antidepressivos? Graças ao correio. Meu marido mandou a caixa para o endereço errado. Aí eu deixei de tomá-los. Não posso dizer que estou sempre de alto astral. Ainda sou uma dependente de comida, a diferença é que hoje consigo me controlar. Tenho dias mais fáceis, outros bem difíceis. Nos momentos de crise, penso: 'Quer ficar viva? Então coma direito'. Dois anos depois da operação, estou com 70 quilos. Voltei a trabalhar fora, faço ginástica duas vezes por semana e acabei de fazer uma cirurgia de varizes. A cada dia me sinto melhor. Quando consegui cruzar as pernas foi uma vitória! Posso comer até 6 vezes por dia em porções pequenas. Não fico beliscando, aprendi que não sou uma lata de lixo em que se joga qualquer coisa."


 



"Emagrecer a dois é bem mais fácil"
Seiko Alice Higashi, 40 anos, e seu marido, Wagner Mariwaki, 38, perderam juntos
30 quilos. O casal mora em Fukui-shi

 

"Meu marido sempre foi gordo, mas eu ganhei peso depois que vim para o Japão e fui presa da perigosa combinação: estresse, rotina e alimentação inadequada. Há um ano, decidimos emagrecer. Fizemos o exame de saúde da fábrica e foi constatado que ambos estávamos com excesso de peso e com o colesterol e a taxa de glicose altos. O Wagner estava com 101 quilos e eu com 63 - muito acima do normal se considerarmos que tenho 1,50 m de altura. Começamos pela alimentação. No lugar da carne, massas e feijoada entraram peixe, tofu, salada e verdura refogada. Também adotamos um shake dietético, mas logo tomamos consciência de que só o controle da alimentação não basta, o corpo pede exercício físico. Há um ano, andamos todo santo dia depois do trabalho. Primeiro, fazíamos 30 minutos de caminhada, hoje andamos durante uma hora e 20 minutos. Quando não vamos porque está chovendo ou nevando,a consciência pesa. Foi por isso que compramos um aparelho de ginástica.Em 12 meses, meu marido perdeu 20 quilos, está com 81. Ele já tinha feito regime com remédio antes, mas engordou tudo de novo. É a primeira vez que perde peso com consciência. Agora ele quer chegar aos 75, falta pouco. Eu quero manter os 53 quilos, se emagrecer mais, tudo bem! Falando assim parece fácil, mas os primeiros dias de regime são uma tortura para quem passou 40 anos comendo o que aparecia pela frente. Qualquer coisa que a gente via na tevê dava água na boca. A nossa estratégia era tomar um copo de água bem cheio ou, em última instância, comer um tomate ou um biscoito. Nas horas difíceis, quando sentíamos uma vontade incontrolável de comer, um dava força para o outro. Fazer regime a dois é bem mais fácil. Todo feriado temos uma recaída. Aí comemos carne, mas de forma dosada e já sabendo que a 'ração' vai ser reduzida no dia seguinte. No feriadão de Ano Novo, comemos como nos velhos tempos e, por causa da orgia à mesa, não perdi    peso nos dois meses seguintes."